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sábado, 22 de janeiro de 2011

CANÇÃO

Cecília Meireles

No desequilíbrio dos mares,

as proas giram sozinhas...

Numa das naves que afundaram

é que certamente tu vinhas.



Eu te esperei todos os séculos

sem desespero e sem desgosto,

e morri de infinitas mortes

guardando sempre o mesmo rosto



Quando as ondas te carregaram

meu olhos, entre águas e areias,

cegaram como os das estátuas,

a tudo quanto existe alheias.



Minhas mãos pararam sobre o ar

e endureceram junto ao vento,

e perderam a cor que tinham

e a lembrança do movimento.


E o sorriso que eu te levava

desprendeu-se e caiu de mim:


e só talvez ele ainda viva

dentro destas águas sem fim

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

SONETO DE FEL







            Luiz Martins da Silva


Lá se foi a ex-donzela, que era hora,

Rendeu-se às garras gumes de algum ogro,

Híbrida de mau agouro e peixe já sem guelra,

Questão de único aceno e raras lágrimas.



Lá se foi como na gravura de um Goya,

Transmigração de agrura e rima tosca,

Sono da razão que engendra monstros,

Morcegos e corujas... escondo o rosto.



Lá se foi da juventude a cor da íris,

Pois vê-la contra o breu não foge a fera,

Chorar em cinza é verter náusea em amarelo.



Há dias de não ser mais que um macho mocho,

Grisalhos elos que se acorrentam ao pescoço

E a paisagem que era jardim agora é ocre.

domingo, 9 de janeiro de 2011

INSPIRAR


"Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la."

C.  LISPECTOR