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terça-feira, 29 de março de 2011

CASCO AO VENTO



            Luiz Martins da Silva

Barro oco,
Barroco barco,
Arco de toco;
Troco, não troço.

Encontrar canoa,
Serventia pluma,
Se não há espuma,
Haja lua de areia.

Escama de sereia
Promessa, viagem,
Travessia a nado,
Do nada ao adro.

Estando ao meu lado,
Convite de embarque,
Pirapora, por ora,
Balsa de pau flutua.

Pintura- Vladimir Kush

segunda-feira, 21 de março de 2011

ENCARAR DE FRENTE



Teresa Ferrer  Passos

Mesmo que seja o infortúnio, o silêncio
mesmo que nada encontre, ou só a dor,
eu tenho de encarar de frente!
Mesmo que a solidão seja rainha,
mesmo que fique sozinha,
eu tenho de encarar de frente!
Mesmo que a dor se imponha ao ser,
mesmo que a cruel verdade possa ser,
eu tenho de encarar de frente
a terrível ilusão de nada ter!

Do livro- Asas no Poente

segunda-feira, 14 de março de 2011

ODE AOS BAÚS



               Luiz Martins da Silva

Temo abri-los,
E deles se esvaia,
Com o tempo embalsamado,
O encanto de acreditar que neles ainda haja
Algum encanto, aguardado.

Talvez, não os tema, propriamente,
Mas que se percam da mística
As pessoas que ocultamos no tempo,
Intangíveis... Antiquárias... Algumas
Ainda em roupas de crianças.
Outras, colegiais. Outras... E mais outras...
Perdidas da espiral de Aquarius...

Recuso-me aceitar que se tenham mudado:
De idade, de cidade,
De país e até da Humanidade.

Baús, essencialmente, baús.
Ou seja, herméticos. De preferência,
Com a fechadura enguiçada.
Quem sabe, assim, conservem-nos,
Como se ainda tivéssemos acesso:
À Ilha do Tesouro,
Às Viagens de Gulliver,
À Cabana do Pai Tomás,
Às criaturas de Monteiro Lobato,
À toda a coleção de Julio Verne,
E até mesmo à nossa mais pura e verdadeira
História de Robinson Crusoé.

sábado, 12 de março de 2011

ZU

z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z u...

 


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sábado, 5 de março de 2011

BRILHO EMPRESTADO

               
Luiz Martins da Silva



Por que veio ao mundo torvelinho bravo e turvo,

A cobrir de cisco todo o véu desta manhã?

Suponho um areal de tristezas devolutas,

Suspensos rejeitos de ignotas estrelas-anãs.



Nenhum fato digno de manchete nos jornais;

Ninguém matou ninguém, um raro dia sem raiva;

Nenhuma criança foi pelos pais abandonada;

Nenhum ébrio de desprezo afogando-se em lágrimas.



Qual, então, a razão de insondável e sideral vertigem

A avoar-me da alma a ossatura descarnada?

Alinhamento repentino ao batente mais reles do astral.



Cismo rasteira inesperada de uma onda no repuxo,

Decaindo desde as mais remotas regiões do cosmos,

Na missão de recolher aqui humilde gota de cristal.